covardia da imprensa alemã

Após espetaculares revelações de má conduta do governo brasileiro, o jornalista Glenn Greenwald foi acusado pelo governo de supostos “crimes cibernéticos” e “crimes cibernéticos”.

Um comentário de Christiane Borowy.

Imagine que a liberdade de imprensa está em perigo e que ninguém vai. Nem a política nem a mídia na Alemanha reagem adequadamente ao fato de que, mais uma vez, um proeminente jornalista de investigação é “declarado inimigo do Estado”.

Há alguns dias, o mundialmente famoso jornalista americano Glenn Greenwald foi acusado de ser membro de um grupo de hackers que se diz ter obtido ilegalmente acesso a telefones celulares ( ……….), por exemplo, do juiz brasileiro e mais tarde Ministro da Justiça Sergio Moro, e de outros altos funcionários.

Greenwald é acusado de “crime na Internet” e “cibercrime”, a imprensa alemã manchete de forma espalhafatosa, mas não toma posição em favor da liberdade de imprensa.

Greenwald havia revelado em seu site de notícias The Intercept, que é considerado uma plataforma de divulgação, há vários meses, que o juiz e o promotor poderiam ter conspirado na investigação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e publicado histórias de chat como prova, entre outras coisas. Lula tinha sido condenado a 12 anos de prisão, mas foi então libertado após um ano devido às revelações de A Intercepção.

O nome Glenn Greenwald é lembrado por alguns como o homem que, em 2013, ajudou Edward Snowden a expor a espionagem e vigilância mundial da NSA sobre a população, que não era de forma alguma considerada crime cibernético. Agora parece que o próprio Glenn Greenwald precisa de ajuda, porque ele está em apuros. O Presidente Bolsonaro há muito o ameaça e afirma que Greenwald cometeu um crime ao publicar mensagens de texto, porque mostrou com que maquinações veio ao governo.

Assim, um jornalista expõe um regime profundamente corrupto no Brasil e é prontamente declarado inimigo do Estado. Apesar, ou talvez por causa da estreita relação entre Alemanha e Brasil, a imprensa alemã é moderadamente contida.

Na nova revista Multipolar, o jornalista alemão Paul Schreyer reconhece na declaração dos jornalistas como inimigo público um padrão destrutivo no que diz respeito à democracia e à liberdade de imprensa, o que é particularmente evidente na acusação de Julian Assange. O caso Greenwald também prova que Schreyer tem razão. Greenwald é retratado por Bolsonaro não como um jornalista a fazer o seu trabalho, mas como um criminoso.

Greenwald tem sido um espinho do lado do governo brasileiro há muito tempo. Mas mesmo que o Presidente Bolsonaro o ameace e lhe chame duros insultos, o jornalista não se deixa intimidar. No final do ano passado, Greenwald foi até atacado fisicamente nas câmaras por um jornalista próximo a Bolsonaro. Depois que Greenwald conseguiu evitar ser esbofeteado pelo seu número oposto, este o pressionou no rosto com toda a mão. Na altura, isto dificilmente valia uma linha para a imprensa alemã. Os filhos de Bolsonaro apoiaram o jornalista violento em retrospectiva e simplesmente viraram a mesa sobre ele, alegando que embora o vídeo mostrasse os acontecimentos reais, o jornalista atacante deveria ter se defendido de Greenwald.

Esta torção da verdade tem um método. Para entender as implicações, ajuda a entender o seguinte: Greenwald provou que o atual presidente Bolsonaro eliminou seu rival Lula, condenando-o a 12 anos de prisão por um suposto escândalo de corrupção, em conluio com a acusação e o juiz. Greenwald pesquisou e publicou quem é realmente o político corrupto. Lula foi libertado, mas Bolsonaro ainda está no poder.

Isto não é muito complicado e fácil de entender. É ainda mais incompreensível que quase nada aconteça. Não há tumulto mediático ou político, embora a liberdade de imprensa diga respeito a todos, mesmo àqueles que não são jornalistas, como aponta o próprio Greenwald (ver revista Multipolar). É de se temer que, como no caso de Julian Assange, os procedimentos legais sigam agora um após o outro.

Moritz Müller comenta em 23.1.2020 no NachDenkPages “Isto não tem bom aspecto”. Correcto. Greenwald deixou claro para o mundo que o jornalismo crítico tem uma importante função de controle político.

É difícil acreditar no que ele está disposto a aceitar para isso. Apesar das ameaças de morte e mesmo dos ataques expostos publicamente, ele não está preparado para deixar o Brasil. Ele continua a lutar pela liberdade de imprensa e, portanto, pela verdadeira democracia.

O senador e candidato presidencial democrático Bernie Sanders se dirige ao governo no Brasil pelo Twitter e pede que pare o ataque à liberdade de imprensa e ao Estado de Direito. Ele também enfatiza a importância da liberdade de imprensa e aponta que é tarefa dos jornalistas expor a má conduta dos governos.

Quais são as reacções da política e da comunicação social na Alemanha a isto? Praticamente nenhuma.

Isto é espantoso, considerando que o Ministro das Relações Exteriores Heiko Maas esteve na América Latina não há muito tempo, em maio do ano passado, e que ele também pediu a proteção especial dos jornalistas no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Ele teria tido a oportunidade de defender Glenn Greenwald agora. Mas no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, ele preferiu lembrar-se dos jornalistas assassinados. Só o jornalista morto é um bom jornalista?

A oportunidade de exercer pressão sobre Bolsonaro parece ter passado por Maas apesar das palavras nobres e vazias sobre a liberdade de imprensa.

Numa carta aberta a Heiko Maas no NachDenkSeiten, o jornalista Enrico Füllgraf escreve que a “reorientação da política alemã para a América Latina é um imperativo do momento”. De forma alguma a política alemã tem de aceitar o comportamento de Bolsonaro. As palavras sobre a proteção dos jornalistas e o compromisso com a liberdade de imprensa são apenas um desperdício de papel.

Isto torna-se particularmente claro em relação à Conferência da América Latina do Ministério das Relações Exteriores em Berlim há alguns meses atrás, à qual Füllgraf também se refere. É acima de tudo interessante dar uma olhada no que foi acordado entre Brasil e Alemanha nesta conferência. Você pode ler sobre isso no site do Ministério das Relações Exteriores Federal.

O Brasil é o parceiro comercial mais importante da Alemanha. É por isso que, como afirma a revista de negócios Capital, os negócios alemães têm grandes esperanças para Bolsonaro.

Heiko Maas, seu homólogo Ernesto Araújo e Bolsonaro emitiu uma declaração conjunta em abril do ano passado, que foi publicada como um comunicado de imprensa pelo Ministério das Relações Exteriores Federal. Os representantes da imprensa alemã tiveram, assim, a oportunidade de reconhecer ligações e apelar à acção política. A declaração não só aponta que a Alemanha já investiu 20 bilhões de dólares americanos no desenvolvimento do Brasil em 2016, e que cerca de 1.600 empresas alemãs estão sediadas no Brasil, mas também afirma que o país é um dos principais atores da economia global. Também declara

“No campo da defesa, eles reconhecem os progressos alcançados e reafirmam o seu interesse em conduzir um diálogo estratégico bilateral. Eles saudaram a anunciada seleção do consórcio incluindo a empresa alemã ThyssenKrupp para construir quatro fragatas leves da classe Tamandaré para a Marinha do Brasil”.

Isso é interessante. Especialmente em vista de um discurso flamejante de Walter Steinmeier no Yad Vashem em 23.1 2020, no qual ele apelou à responsabilidade alemã da lembrança?

ThyssenKrupp e o Holocausto – houve alguma coisa? Oh sim, já em setembro de 2019, o jornal tablóide “ThyssenKrupp comemora as vítimas do Holocausto”. Mas havia outra coisa. Certo, o Grupo é uma das empresas que apoiou o Holocausto. Talvez isso seja algo que devamos lembrar. Talvez se coloque então a questão de como pode ser que a empresa alemã esteja, mais uma vez, obviamente entre os beneficiários das guerras. O Brasil está muito longe e sua relação com a Alemanha parece estar associada ao futebol.

Em sua análise “As empresas alemãs e sua ganância por matérias-primas no Brasil”, o jornalista Andreas Grünwald examina a conexão entre o contexto econômico e político da política alemã e brasileira. Ele mostra como é importante analisar essa conexão e exige que não apenas falemos sobre o Bolsonaro, mas também que nomeiemos os responsáveis à nossa própria porta.

Mas as empresas alemãs têm dificuldade em aceitar a responsabilidade. Além disso, a política e os meios de comunicação social estão a postos no sentido literário da palavra e estão tão interessados na liberdade de imprensa como um leão está na comida vegetariana.

Fontes:

  1. https://theintercept.com/2020/01/21/glenn-greenwald-brazil-denunciation/
  2. https://multipolar-magazin.de/
  3. https://www.zeit.de/gesellschaft/zeitgeschehen/2020-01/glenn-greenwald-brasilien-internetkriminalitaet-snowden
  4. https://www.spiegel.de/netzwelt/netzpolitik/brasilien-glenn-greenwald-wegen-cyberkriminalitaet-angeklagt-a-4705d9ef-3b74-41f6-a396-f52693aeacb4
  1. https://www.merkur.de/politik/gleen-greenwald-brasilien-us-journalist-geschlagen-gewalt-bolsonaro-radio-zr-13205405.html
  2. https://www.nachdenkseiten.de/?p=57863#h01
  3. https://www.capital.de/wirtschaft-politik/brasilien-deutsche-firmen-setzen-hoffnungen-in-bolsonaro/6
  4. https://www.auswaertiges-amt.de/de/aussenpolitik/laender/brasilien-node/bilateral/201112
  5. https://kenfm.de/deutsche-konzerne-und-ihre-rohstoffgier-in-brasilien

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